Seja Bem Vindo - Comunicar é uma Necessidade Humana

"Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra". (Anísio Teixeira)


quinta-feira, 23 de junho de 2011

PUC: demissão de professora pode ir parar no Vaticano


A demissão de uma professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), com acusações de agressão de um lado e assédio moral de outro, pode vir a ser resolvida em Roma, última instância da Igreja Católica, à qual a universidade é vinculada. Pela primeira vez, o Tribunal Eclesiástico de São Paulo, ligado à Cúria Metropolitana, acostumado a tratar questões matrimoniais, julgou um assunto interno da PUC como esse. No fim de fevereiro, juízes padres do tribunal decidiram que a universidade deve reintegrar a professora doutora Anna Maria Garzone Furtado, de 74 anos, às salas de aula de onde foi afastada após ser demitida sem justa causa, em 2009. Anna Maria fez parte da PUC durante 45 anos – primeiro como aluna e depois como docente do curso de História, vinculada às faculdades de Ciências Sociais e Educação.
Os magistrados católicos recomendaram, ainda, caso ela não queira voltar a lecionar, que a PUC “faça uma despedida honrosa e justa”. A reportagem procurou representantes do tribunal, que não se manifestaram sob alegação de segredo de justiça. O JT obteve cópia da sentença. Em março, a PUC recorreu em segunda instância. Caso a nova decisão seja favorável à professora e a universidade não queira acatá-la, a questão será submetida ao arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. Em última instância, pode ser levada a Roma, onde será analisada pela Congregação para a Educação Católica, uma espécie de “Ministério da Educação” do Vaticano, que decide em nome do papa.
O caso é analisado também pela Justiça comum. Anna Maria acusa a PUC de assédio moral. Em março, ela conquistou mais uma vitória. Em segunda instância, a Justiça do Trabalho determinou que a faculdade lhe pague indenização de R$ 30 mil. Desde que foi dispensada pela universidade, Anna Maria lutava para voltar à sala de aula. Sua demissão ocorreu por votação unânime por conta de uma acusação de agressão a colegas, o que ela classifica como “injúria, calúnia e difamação”. “Se isso fosse verdade, por que não demitiram por justa causa? Na ocasião, não tive direito a plena defesa. Precisava resgatar a minha dignidade pessoal, como mãe e como profissional”, diz, após o veredicto. A história começou em 2000, depois que Anna Maria quis saber por que quatro alunos que ela havia reprovado foram aprovados pelo departamento em que lecionava sem que fosse ouvida. “Passaram por cima da minha autonomia como professora. O jurídico da PUC forneceu legislação federal onde constava que nem ‘intervenção judicial’ pode mudar nota de aluno”, afirma.
O caso agora levanta uma polêmica que envolve o meio jurídico e o direito canônico. O reitor da PUC, Dirceu de Mello, diz que a sentença do tribunal não tem de ser seguida pela universidade, pois não tem efeito civil. “Em nosso País, a Igreja é separada do Estado. Seguimos a Constituição”, sustenta. “Quando a professora foi desligada, eu não era reitor”, disse, ao explicar a razão de não falar especificamente sobre as condições que levaram à demissão. Segundo Mello, a decisão de demitir a professora foi tomada por  unanimidade pelo órgão máximo da faculdade, o  Conselho Universitário. “O Tribunal Eclesiástico é à parte. São decisões sobre questões matrimoniais. Será que não teria efeito exclusivamente moral?”, indaga Mello. Ele também questiona o que aconteceria se o caso chegasse a uma instância superior do direito comum. “Imagine que houvesse uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Ela teria de ser invalidada diante da decisão do Tribunal Eclesiástico? O fato de ser uma universidade católica não a libera dos compromissos com a Justiça civil.” O especialista em direito canônico padre Vicente Ferreira de Lima, presidente do Tribunal Eclesiástico de Divinópolis, Minas Gerais, pensa de forma contrária. “As decisões do tribunal têm efeito prático uma vez que a universidade é um órgão da Igreja. Em terceiro grau, o caso vai a Roma.”
Com 28 anos de direito canônico, é a primeira vez que Lima sabe de uma história como a da professora da PUC que foi parar no Tribunal Eclesiástico. Segundo ele, se o caso chegar a Roma, e se confirmada a sentença de primeiro grau, a universidade terá de acatar a decisão do Vaticano sob pena de os dirigentes da universidade perderem seus cargos. “A Congregação para a Educação Católica, em Roma, decide pelo papa.” O desembargador Antônio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça, diz que, por um lado, o reitor tem razão. “Ordinariamente, a prioridade é a lei civil”, explica. “Mas como é uma universidade católica, quem dá a última palavra é Roma”, pondera. “Os juízes não só conheceram a matéria como decidiram pela reintegração da ex-professora.”
FONTE: O Estado de São Paulo, 18/04/2011 - São Paulo SP

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Governo deve anunciar programa de telefonia fixa para pessoas de baixa renda


De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira (22/6), o governo vai anunciar na próxima semana um programa de telefones fixos para pessoas de baixa renda. Os usuários pagarão R$ 9,50 por 90 minutos mensais. Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o projeto vai atender cerca de 12,6 milhões de casas beneficiadas pelo Bolsa Família, além de aposentados rurais e deficientes. O valor do plano prevê a isenção do ICMS (imposto estadual). Caso o Estado não abra mão do imposto, o preço final do programa passará para R$13,30. Hoje, a assinatura básica custa R$ 46,00.
A proposta ainda precisa ser formalizada por meio de decreto da presidente Dilma Roussef, como parte do plano de universalização. O programa faz parte do conjunto de medidas que inclui a internet banda larga por R$ 35 mensais.
FONTE: Olhar Digital – 22/06/2011

Cidade do Piauí tem mais medalhas que 11 Estados em Olimpíada de Matemática


Pela quinta vez em cinco anos, Sandoel Vieira, 16 anos, saiu de Cocal dos Alves (PI) para receber uma medalha nas Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). No Theatro Muncipal do Rio, ele recebeu na tarde desta terça-feira sua terceira medalha de ouro – as outras duas foram de bronze – e cumprimentou a presidente Dilma Rousseff, ao lado de 499 alunos de todo o País. Sandoel não veio sozinho. Estava no Rio acompanhado de mais três conterrâneos ainda mais jovens, que também obtiveram a premiação máxima da disputa: Clara Mariane Oliveira, 13, Antônio Wesley Vieira, 13 e José Márcio Brito, 15. O município de 5.600 habitantes - de onde também saiu o vencedor do programa Soletrando - fica a 300 km da capital Teresina e tem apenas duas escolas públicas – uma municipal e outra estadual. Sozinha, a cidadezinha conseguiu 14 medalhas entre os 3.200 melhores do Brasil. Além das 500 medalhas de ouro, foram distribuídas ainda 900 de prata e 1.800 de bronze pelos resultados, entre 19,5 milhões de competidores, na sexta edição do evento.
A pequena cidade, sozinha, recebeu mais medalhas de ouro que 11 Estados do país. “É a água de lá”, brinca o professor da Universidade Federal do Piauí João Xavier da Cruz Neto. “Como se explica, qual seria a chance de sucesso de uma cidade pequena? Isso se deve à dedicação de dois professores”, afirmou o presidente da Olimpíada e diretor do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), Cesar Camacho. O provável segredo está na existência de um grupo de estudo de matemática que promove reuniões duas vezes por semana com professores de matemática locais, Antônio Cardoso Amaral e Raimundo Brito, e aulas a cada duas semanas com professores da Universidade Federal do Piauí. “Treinamos problemas sobre assuntos de olimpíada de matemática e nos preparamos”, explica Sandoel. “Eu fico orgulhosa”, diz, quase inaudível, a tímida Clara.
Além de estudar Matemática, Antonio Wesley gosta de jogar videogames e mexer em computadores. “Não posso mexer direito (em computadores), tenho pouco acesso”, conta José Márcio, filho de lavradores, que estuda à noite e não tem computador. Campeão na Matemática, José Marcio pretende trabalhar em um universo mais abstrato que a lavoura de feijão dos pais, que tem pouco estudo. Ele pretende ser pesquisador de Matemática. “Esse prêmio nos dá novas perspectivas e abre possibilidades”, disse Sandoel. A presidenta Dilma Rousseff acredita que “histórias de superação como as que aqui presenciamos são exemplo para o Brasil”. “Um país não é feito só de realizações concretas, pontes; uma das coisas mais importantes é o conhecimento, a capacidade do ser humano de a cada geração ir além. Aqui estão jovens que podem ir além e serão os instrumentos para que o Brasil vá além. O tamanho de nosso país tem a ver com o tamanho de nossos sonhos”, afirmou.
Dilma anuncia bolsas - A presidenta anunciou a criação de um programa que vai distribuir 75.000 bolsas de estudo universitário – da graduação ao pós-doutorado – em universidades de elite do mundo, em países como os Estados Unidos, Alemanha, China e França, por exemplo. A pentamedalhista de ouro Maria Clara Mendes Silva, mineira de 16 anos que ficou empatada em primeiro lugar neste ano com mais sete alunos, é uma candidata. “Quero estudar no MIT (Massachussetts Institute of Technology) ou em Harvard”, disse ela, que mora em Pirajuba e tem consciência de seu potencial. Clara faz parte de um grupo de elite da OBMEP, que vem uma vez por mês ao Rio para treinamento em Matemática. Ao lado de André Macieira Costa, 16, e Henrique Fiúza, 15 – ambos de colégios militares – e mais três jovens, ela vai representar o Brasil na Olimpíada Mundial de Matemática, em julho, na Holanda.
FONTE: Portal IG Educação, 21/06/2011.

Respondendo solicitações dos leitores



Prezados leitores e seguidores do blog Educação, Memória e Entretenimento.


Tenho recebido inúmeras sugestões para publicar notícias de Forquilha dos Batista nesse blog por nossos leitores assíduos, aos poucos estamos respondendo essas solicitações sabendo a importância de mostra nossa querida comunidade e nossa gente para o mundo através da internet. Nessa postagem atenderemos ao pedido de Luciano Brito que gostaria de saber informações sobre qual a posição das autoridades no tocante a reconstrução da passagem molhada de Forquilha dos Batista que devido às fortes cheias no riacho do capim pubo teve parte de sua estrutura danificada.
Prezado Luciano e demais interessados no assunto, ate o momento ainda não foram realizados os serviços de recuperação na passagem molhada de Forquilha dos Batista, para trafegar de um lado para o outro os moradores improvisaram uma ponte de madeira, conforme vocês verão nas fotos abaixo, porém o tráfego é apenas para pessoas, animais e veículos precisam passar pelo atalho na outra estrada, ficando o percurso mais longo.
A comunidade não continua ilhada em função da redução da quadra invernosa, em conversa com o chefe de gabinete da prefeitura municipal  de Icó, Gildomar Gonçalves ressaltou que os reparos na referida obra serão realizados, inclusive com ampliações, no entanto não informou um prazo para a referida recuperação.Já o vereador Marconiêr Mota também recebeu cobranças dos moradores da comunidade em uma visita feita a Escola Juvêncio Batista da Silva, no objetivo de viabilizar um projeto de recuperação dessa obra, estamos aguardando uma posição das autoridades competentes para a resolução desse problema.
Informamos que  o número reduzido de postagens com noticias de Forquilha dos Batista  e região do vale do capim pubo se devem ao fato de que nesse período estou atuando durante o dia no Centro de Referencia Padre Jose Alves de Macedo e no período da noite atuo no Projovem Campo, Vila Três Bodegas, ambos na função de docente, retornando para Forquilha dos Batista apenas nos finais de semana ou feriados.
               Confiram as fotos da passagem molhada de Forquilha dos Batista:

Ponte de madeira improvisada para pedestres

Estrago - Obstrução do trânsito.

Visão da passagem molhada - Sonho da comunidade

Att: Luziano Batista Pereira 
Educador Icoense

terça-feira, 21 de junho de 2011

Não sabe que profissão seguir? Faça o teste vocacional agora, gratuitamente! Responda a algumas perguntas e descubra que função tem mais a ver com você!


Para quem quer ou precisa descobrir a sua verdadeira vocação profissional, a dica é fazer este teste online gratuito. Ele é aplicado em diversas empresas de recrutamento e tem uma metodologia simples e eficaz.
Entre no link e se prepare para responder diversas perguntas. Leve o tempo que for necessário, pois quanto mais certeza você tiver das respostas, melhor. Em cada questão você pode escolher apenas duas opções, uma sempre bem diferente da outra e que vão dizer muito sobre você e seus verdadeiros gostos. Leia com a atenção e selecione a caixinha A ou B. São cinco grupos de perguntas que serão somados individualmente. O grupo 1 é das ciências físicas, e o grupo 5, por exemplo, é das atividades artísticas. A pontuação vai de 0 a 12, sendo que 0 a 3 significa interesse pequeno pelo assunto, 4 a 6 interesse moderado, 7 a 9 grande interesse e 10 a 12 interesse muito forte. Após completar o teste, veja o resultado de cada grupo e descubra qual deles tem mais a ver com você.
Fácil, não é? Se tiver afim de tentar, clique no link que acompanha esta matéria e se redescubra com o Teste Vocacional Online.
 FONTE: Olhar Digital - Maio de 2011.

Sejam Bem vindos a Olimpiada Nacional de História do Brasil


          A 1ª Olimpíada Nacional em História do Brasil ocorreu em 2009, contou com cerca de 16 mil inscritos e foi um grande sucesso entre alunos e professores de todo o país! A 2ª Olimpíada traz novamente o desafio de estudar a história do Brasil por meio de textos, documentos, imagens e mapas, ao longo de questões de múltipla escolha e da realização de tarefas muito especiais! São 5 fases online e uma fase final, presencial, que ocorrerá na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para Conhcer o regulamento clique aqui.
Tire suas dúvidas sobre a Olimpiada Nacional de História do Brasil na seção de perguntas e respostas abaixo:

Dúvidas frequentes

1. Não recebi o e-mail com o link para efetuar pagamento.

Quem recebe o e-mail das inscrições é o orientador da equipe, e o e-mail enviado pode demorar de 1 a 2 horas para chegar.
Com freqüência os e-mails enviados caem na caixa de “SPAM”, em “junk mail”, na quarentena ou no lixo. Verifique, por favor, se o e-mail está em algum destes lugares.
Se ainda assim não recebeu o e-mail, talvez você tenha digitado errado o e-mail do orientador, neste caso, terá que ignorar a inscrição efetuada e começar uma nova inscrição, neste caso fique atento ao concluir o cadastro para o e-mail que aparece como sendo o e-mail para o qual foi enviada a mensagem.

2. Sou aluno e inscrevi uma equipe, no entanto, não recebi nenhum e-mail relativo a inscrição ou pagamento. Como faço?

O responsável por toda a comunicação entre a Olimpíada e a sua equipe é o seu orientador, é para ele que vão estes e-mails. Você digitou corretamente o e-mail do seu orientador?

3. Sou o responsável pelo pagamento, mas não recebi o e-mail.

Você é o orientador da equipe? O responsável por toda a comunicação com a Olimpíada é o orientador da equipe, ele que recebe os e-mails.

4. Sou diretora da Escola e gostaria de manter o controle de todas as inscrições? Como faço?

Não é possível. Apenas os orientadores cadastrados têm acesso ao login de cada equipe.

5. Errei na minha inscrição! Como fazer?

Se você errou na sua inscrição e ainda não pagou, não há problema, você pode fazer uma nova inscrição e ignorar a antiga. Se você já pagou, peça para fazer a alteração dos dados errados.

6. Quero cancelar minha inscrição? Posso?

Se você ainda não pagou, não há problema, você pode ignorar a sua inscrição, ela será cancelada automaticamente quando começar a 1ª fase. Se você pagou, não é mais possível cancelar sua inscrição ou receber o valor da inscrição de volta.

7. Qual é o valor de inscrição?

Os valores e outras informações importantes estão descritos no regulamento da Olimpíada, que deve ser lido com atenção.

8. Como é a Olimpíada?

Você pode aprender muito sobre a Olimpíada, vendo a página da 1ª Olimpíada

9. Quero colocar uma foto na minha equipe? Como faço?

Quando a Olimpíada começar cada equipe terá acesso a sua sala de equipe, aonde será possível
colocar uma descrição e uma foto.

10. O professor orientador tem que ser da escola onde estudam os alunos?

Sim. O professor orientador deve, necessariamente, ter vínculos com a instituição de ensino da equipe que orientará. Portanto, é necessário que o professor de história dê aulas desta disciplina na escola. Mesmo que ele não seja, no presente momento, o professor dos alunos que vão formar a equipe, ele deve ser professor de história na instituição onde eles estudam.

11.O professor orientador precisa ser da disciplina de História?

Sim. É obrigatório que o professor seja da disciplina de História.

12.Um professor pode orientar mais de uma equipe?

Sim, quantas desejar orientar.

13.O mesmo aluno pode participar de mais de uma equipe?

Não.

14.Um professor que dá aulas em várias escolas pode orientar equipes nas diferentes unidades?

Sim. O professor pode orientar quantas equipes desejar, desde que faça parte do quadro docente em todas as unidades.

FONTE: Site da olimpiada Nacional de História do Brasil.

Alan García declara que Peru está livre do analfabetismo


O presidente Alan García declarou nesta segunda-feira que o Peru está "livre do analfabetismo", já que conseguiu reduzir a taxa de 11% para 2,8% durante seu governo, um número que, no entanto, não foi endossado por organismos internacionais. O líder peruano qualificou esta redução como algo "transcendental e histórico para o país", mas alguns analistas consideram esses dados pouco realistas e baseados em um conceito de alfabetização um tanto simplista.
"Consideraram um indivíduo que aprendeu a assinar seu nome e a adquirir alguns dados pessoais como uma pessoa alfabetizada. Isso não é realista", opinou à Agência Efe Madeleine Zúñiga, coordenadora nacional da organização Campanha Peruana pelo Direito à Educação. Estas críticas não impediram García de  organizar uma grande celebração nesta segunda-feira no Palácio do Governo para comemorar os resultados do Programa Nacional de Mobilização pela Alfabetização (Pronama), por meio do qual, segundo o Executivo, mais de um milhão e meio de peruanos aprenderam a ler e a escrever. Madeleine afirmou que o anúncio de García pode ser comparado a uma medida populista similar à realizada por Hugo Chávez na Venezuela, que declarou em 2005 que seu país estava "livre do analfabetismo". Posteriormente, o Equador, a Nicarágua e a Bolívia também alegaram obter o mesmo resultado. "Eu tinha a esperança de que aqui não cometeriam este erro, mas pelo visto o presidente decidiu fazer de qualquer maneira. Na realidade não houve nenhuma avaliação séria envolvida", acrescentou a analista. A coordenadora da Campanha Peruana pelo  Direito à Educação acrescentou que a realização do anúncio pode fazer com que os programas de alfabetização sejam deixados de lado quando "ainda há muito o que fazer". "Este programa também não atinge a raiz do problema, que é a pobreza. Ninguém deixou de estudar porque quis, mas porque não foi possível assistir as aulas, porque não há escolas e nem professores", afirmou. Na cerimônia realizada nesta segunda-feira no Palácio do Governo, um dos últimos atos de García como presidente antes de seu sucessor Ollanta Humala assumir o poder em 28 de julho, o líder peruano contou com a presença de embaixadores. Segundo dados do governo, no Pronama participaram 216 mil alfabetizadores e 15 mil supervisores que utilizaram material de texto em nove línguas nativas, assim como braile e linguagem dos sinais.

FONTE: Portal Terra Educação, 13/06/2011.

Pesquisa mostra quais os sonhos dos jovens brasileiros


O maior desejo de 55% dos jovens brasileiros quando se fala de trabalho é ter a “profissão dos sonhos”. Nove em cada dez gostariam de ter uma profissão que ajudasse a sociedade. É o que aponta o estudo o ‘O Sonho Brasileiro’, feito com cerca de 3 mil jovens de 18 a 24 anos de todo o País, e procura dá um panorama das expectativas destes jovens para o futuro. Segundo a pesquisa, a possibilidade de construir uma carreira é o aspecto mais importante, seguido de ter carteira assinada. Os dois itens são mais importantes do que salário e encontrar uma profissão com perfil de futuro. Entre as pessoas ouvidas, 47% pertencem à classe C, seguida de 33% da B e 17% das classes D e E. O estudo, realizado nos últimos 18 meses em 23 estados brasileiros procurou investigar as relações que esta parcela da população tem com questões como trabalho, política, economia, religião e família. Além disso, números como 89% têm orgulho em serem brasileiros e 75% acreditarem que o País está mudando para melhor, dão tom otimista ao trabalho. Já na área da Educação, os participantes dizem que quando se fala em ensino superior, o diploma ainda é muito atraente e importante. “Dentro dos 79% que não estão no ensino superior, 77% têm intenção de cursar, há um desejo muito forte. Há uma valorização da sociedade, é algo necessário para inclusão”, enfatiza o sociólogo Gabriel Milanez, um dos autores do estudo. O jovem acredita que a mudança deve partir dele e a transformação social só é possível a partir da ação de pessoas. Mas para isso acontecer é necessário estimular a educação e formação para que possam exercer esse papel.
“Hoje, posso dizer que estou muito feliz em poder transmitir conhecimento. Eu tento tirar a ideia consumista dos meus alunos. Trabalho propaganda, consumo, relações sociais. O pouco que eu puder ampliar na cabeça deles, mostrar que o mundo não é shopping, eu fico feliz”, conta a carioca Sara Zarucki, de 23 anos, formada em Ciências Sociais. No entanto, os dados colhidos revelam que acessam conhecimento de maneira informal, especialmente através da internet. O estudo aponta que 82% esperam que escolas e universidades valorizem mais as experiências que trazem de suas vidas. “Este jovem começa a procurar conhecimento fora da escola. Há também uma abertura a outras fontes de conhecimento. Mas uma coisa não exclui a outra”, afirma Milanez. Para 81% desses jovens brasileiros tradições populares são tão importantes quanto escolas para repassar conhecimento. O estudo aponta uma grande valorização das tradições e dos saberes informais. Esta geração já não vê muito sentido em acumular sozinho o conhecimento, ele deve circular, pois se ficar estagnado ou acumulado perde seu valor.
FONTE: O Estado de São Paulo, 13/06/2011 - São Paulo SP

Déficit de profissionais no ensino médio é agravado pela inclusão de novas disciplinas, como sociologia e música

 
Professora há 22 anos e licenciada em história, a pernambucana Letícia Oliveira de Assunção Nascimento é hoje um dos muitos professores multiuso existentes no país: dá aulas não só de história, mas também de filosofia e sociologia no escola estadual Leonor Porto, em São Lourenço da Mata, a 22 quilômetros de Recife: - Ensino também em outros colégios, e perco tempo pesquisando e estudando filosofia e sociologia, quando poderia estar planejando melhor minhas aulas de história. A qualidade do ensino cai muito. Leis aprovadas pelo Congresso acrescentaram quatro disciplinas aos currículos do ensino médio nos últimos anos: filosofia, sociologia, música e espanhol. Mas, se já faltam professores para disciplinas tradicionais como física e química, para as novas o problema é pior ainda. Sem professores de sociologia e filosofia, secretarias de Educação ouvidas pelo GLOBO informaram que recorrem a docentes de outras áreas, como história e pedagogia. É o que ocorre em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Há ainda contratações em regime temporário, em estados que não fizeram concursos públicos específicos.
Diretora do MEC admite déficit - A diretora de Currículos e Educação Integral do Ministério da Educação (MEC), Jaqueline Moll, admite que faltam professores para as novas matérias, incluindo música e espanhol. Mas defende a atuação do Congresso, afirmando que há esforço conjunto de União, estados e municípios para reverter o quadro: - Nada em educação ocorre de um dia para o outro. As leis nascem de uma vontade, uma necessidade e vão fazendo com que a realidade seja construída. Filosofia e sociologia são obrigatórias e devem ser oferecidas separadamente. Música, também obrigatória, foi incluída como novo componente de artes, dividindo a carga horária com artes plásticas e cênicas. Espanhol só é obrigatório em escolas, que têm de oferecê-lo. A matrícula é opcional. A lei que torna o ensino de filosofia e sociologia obrigatório foi aprovada em 2008. O Conselho Nacional de Educação orientou que a oferta se iniciasse no 1 ano, em 2009; no 2, em 2010; e no 3, em 2011. Dados do Inep, órgão do MEC, mostram que, com base no censo escolar de 2010, 84% dos alunos frequentavam escolas com filosofia na grade; em 2008, eram 49%. No caso de sociologia, o percentual estava em 80%; e, em 2008, era de 29%. Na rede estadual, o percentual em 2010 era 85% em filosofia e 82,5% em sociologia. Curiosamente, os índices de oferta das duas disciplinas eram menores na rede privada: 78% (filosofia) e 69% (sociologia).
A lei que tornou o ensino de música obrigatório foi aprovada em 2008, com prazo de três anos para implementação, e vale para toda a educação básica. Segundo o Inep, só 59% dos alunos de ensino médio tinham artes no currículo ano passado. Em tese, o percentual de turmas com ensino de música seria menor. O Inep diz também que só 41% das escolas ofereciam espanhol, obrigatório desde 2005. Em nota, a Secretaria de Mato Grosso do Sul diz que a falta de professores atinge todo o país. A titular da pasta, Maria Nilene Badeca da Costa, é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Educadores divergem sobre a conveniência de novas disciplinas. Do Conselho Nacional de Educação, onde foi relator das recém-aprovadas Diretrizes Nacionais do Ensino Médio, José Fernandes de Lima critica:  - Uma coisa é o Congresso definir que determinado assunto tem de ser tratado nas escolas. Outra é dizer que temos de criar uma disciplina, o que requer profissional com licenciatura na área. Vai contra a ideia da LDB (Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional), de que as escolas precisam organizar seu projeto. O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul, Jaime Teixeira, considerou positiva a inclusão de filosofia e sociologia no currículo. Mas afirma que a falta de professores levou a rede sul-matogrossense a chamar até universitários para lecionar: - Escola não é só para aprender a ler e escrever. É para aprender a pensar.
FONTE: Jornal O Globo, 13/06/2011 - Rio de Janeiro RJ – Matéria escrita por Demétrio Weber e Letícia Lins.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Roubaram nosso martir e herói! E agora?


Tiradentes, uma farsa criada por líderes da Inconfidência Mineira

Ele estava muito bem vivo, um ano depois, em Paris. O feriado de 21 de abril é fruto de uma história fabricada que criou Tiradentes como bode expiatório, que levaria a culpa pelo movimento da Inconfidência Mineira. Quem morreu no lugar dele foi um ladrão chamado Isidro Gouveia.
A mentira que criou o feriado de 21 de abril é:  Tiradentes foi sentenciado à morte e foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, no local chamado Campo da Lampadosa, que hoje é conhecido como a Praça Tiradentes. Com a Proclamação da República, precisava ser criada uma nova identidade nacional. Pensou-se em eternizar Marechal Deodoro, mas o escolhido foi Tiradentes. Ele era de Minas Gerais, estado que tinha na época a maior força republicana e era um polo comercial muito forte. Jogaram ao povo uma imagem de Tiradentes parecida com a de Cristo e era o que bastava: um “Cristo da Multidão”. Transformaram-no em herói nacional cuja figura e história “construída” agradava tanto à elite quanto ao povo.
A vida dele em poucas palavras: Tiradentes nasceu em 1746 na Fazenda do Pombal, entre São José e São João Del Rei (MG). Era filho de um pequeno fazendeiro. Ficou órfão de mãe aos nove anos e perdeu o pai aos 11. Não chegou a concluir o curso primário. Foi morar com seu padrinho, Sebastião Ferreira Dantas, um cirurgião que lhe deu ensinamentos de Medicina e Odontologia. Ainda jovem, ficou conhecido pela habilidade com que arrancava os dentes estragados das pessoas. Daí veio o apelido de Tira-dentes. Em 1780, tornou-se um soldado e, um ano à frente, foi promovido a alferes. Nesta mesma época, envolveu-se na Inconfidência Mineira contra a Coroa portuguesa, que explorava o ouro encontrado em Minas Gerais. Tiradentes foi iniciado na maçonaria pelo poeta e juiz Cruz e Silva, amigo de vários inconfidentes. Tiradentes teria salvado a vida de Cruz e Silva, não se sabe em que circunstâncias.
Tiradentes, maçonaria e a Inconfidência Mineira: Como era um simples alferes (patente igual à de tenente), não lideraria coronéis, brigadeiros, padres e desembargadores, que eram os verdadeiros líderes do movimento. Semi-alfabetizado, é muito provável que nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos do movimento. Em todos os movimentos libertários acontecidos no Brasil, durante os  séculos XVIII e XIX, era comum o "dedo da maçonaria". E Tiradentes foi maçom, mas estava longe de acompanhar os maçons envolvidos na Inconfidência, porque esses eram cultos, e em sua grande parte, estudantes que haviam recentemente regressado "formados” da cidade de Coimbra, em Portugal. Uma das evidências documentais da participação da Maçonaria são as cartas de denúncia existentes nos autos da Devassa, informando que maçons estavam envolvidos nos conluios.
Os maçons brasileiros foram encorajados na tentativa de libertação, pela história dos Estados Unidos da América, onde saíram  vitoriosos - mesmo em luta desigual - os maçons norte-americanos George Washington, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson. Também é possivel comprovar a participação da Maçonaria na Inconfidência Mineira, sob o pavilhão e o dístico maçônico do Libertas quae sera tamen, que adorna o triângulo perfeito, com este fragmento de Virgílio (Éclogas,I,27) Tiradentes era um dos poucos inconfidentes que não tinha família. Tinha apenas uma filha ilegítima e traçava planos para casar-se com a sobrinha de um padre chamado Rolim, por motivos econômicos. Ele era, então, de todo o grupo, aquele considerado como uma “codorna no chão”, o mais frágil dos inconfidentes. Sem família e sem dinheiro, querendo abocanhar as riquezas do padre. Era o de menor preparo cultural e poucos amigos. Portanto, a melhor escolha para desempenhar o papel de um bode expiatório que livraria da morte os verdadeiros chefes.
E foi assim que foi armada a traição, em 15 de março de 1989, com o Silvério dos Reis indo ao Palácio do governador e denunciando o Tiradentes. Ele foi preso no Rio de Janeiro, na Cadeia Velha, e seu julgamento prolongou-se por dois anos. Durante todo o processo, ele admitiu voluntariamente ser o líder do movimento, porque tinha a promessa que  livrariam a sua cabeça na hipótese de uma condenação por pena de morte. Em 21 de abril de 1792, com ajuda de companheiros da maçonaria, foi trocado por um ladrão, o carpinteiro Isidro Gouveia. O ladrão havia sido condenado à morte em 1790 e assumiu a identidade de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela maçonaria. Gouveia foi conduzido ao cadafalso e testemunhas que presenciaram a sua morte se diziam surpresas porque ele aparentava ter bem menos que seus 45 anos. No livro, de 1811, de autoria de Hipólito da Costa ("Narrativa da Perseguição") é documentada a diferença física de Tiradentes com o que foi executado em 21 de abril de 1792. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III escreveu no livro "Contribuindo", de 1921: "Ninguém, por ocasião do suplício, lhe viu o rosto, e até hoje se discute se ele era feio ou bonito...".
O corpo do ladrão Gouveia foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica (MG), cidade onde o movimento se desenvolveu. A cabeça não foi encontrada, uma vez que sumiram com ela para não ser descoberta a farsa. Os demais inconfidentes foram condenados ao exílio ou absolvidos.
A descoberta da farsa: Há 41 anos (1969), o historiador carioca Marcos Correa estava em Lisboa quando viu fotocópias de uma lista de presença na galeria da Assembléia Nacional francesa de 1793. Correa pesquisava sobre José Bonifácio de Andrada e Silva e acabou encontrando a assinatura que era o objeto de suas pesquisas. Próximo à assinatura de José Bonifácio, também aparecia a de um certo Antônio Xavier da Silva. Correa era funcionário do Banco do Brasil, se formara em grafotécnica e, por um acaso do destino, havia estudado muito a assinatura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Concluiu que as semelhanças eram impressionantes.
Tiradentes teria embarcado incógnito, com a ajuda dos irmãos maçons, na nau Golfinho, em agosto de 1792, com destino a Lisboa. Junto com Tiradentes seguiu sua namorada, conhecida como Perpétua Mineira e os  filhos do ladrão morto Isidro Gouveia. Em uma carta que foi encontrada na Torre do Tombo, em Lisboa, existe a narração do autor, desembargador Simão Sardinha, na qual diz ter-se encontrado, na Rua do Ouro, em dezembro no ano de 1792, com alguém muito parecido com Tiradentes, a quem conhecera no Brasil, e que ao reconhecê-lo saiu correndo. Há relatos que 14 anos depois, em 1806, Tiradentes teria voltado ao Brasil quando abriu uma botica na casa da namorada Perpétua Mineira, na rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves Dias) e que morreu em 1818. Em 1822, Tiradentes foi reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira e, em 1865, proclamado Patrono Cívico da nação brasileira.

FONTE: Guilhobel Aurélio Camargo.

sábado, 18 de junho de 2011

Drogas: meu bem, meu mal

A maconha, a cocaína e o LSD estão hoje no centro do crime organizado. Mas já foram recomendados por médicos e considerados sinônimo de elegância.


Há 21 anos, o pesqueiro panamenho Solana Star, perseguido pela Polícia Federal, despejou 22 toneladas de maconha no litoral brasileiro. Durante meses, as praias do Sul e Sudeste foram invadidas por gente que pescava enlouquecidamente um exemplar que fosse da droga, acondicionada em latas de alumínio. Assim como no período conhecido como "verão da lata", os primeiros carregamentos de Cannabis chegaram ao Brasil por mar. Embarcadas em caravelas portuguesas, em 1549, as mudas foram trazidas por escravos e marinheiros apresentados a elas na Índia. Agora, um século após o primeiro acordo internacional contra drogas, um encontro da ONU, em Viena, vai rever a lista de substâncias proibidas em todo o mundo.

A maconha faz parte. Mas nem sempre foi assim. No Brasil do século 16, fumava-se o bangue. Esse cânhamo, subproduto da planta, servia para fazer tecidos de velas, um mercado aquecido na era das navegações e que despertou o interesse da coroa portuguesa pela Cannabis. E os colonos trataram de espalhar sementes da erva por todo o território. Em 1785, o vice-rei Luiz de Vasconcellos e Souza enviou a São Paulo um ofício (com 16 sacas de sementes e um manual de cultivo), pedindo encarecidamente aos agricultores que plantassem maconha. No século 19, ela vira remédio, como se vê na propaganda mais antiga de maconha, feita pela Grimault e Cia., de Paris, em 1885 (ao lado). Encontrada pelo pesquisador Guido Fonseca, apregoava efeitos terapêuticos dos cigarros índios, à base de Cannabis indica, uma variedade da erva.
Cachimbo de pobre
O uso entre ex-escravos estigmatizou o hábito entre os brancos

Com a abolição da escravidão, em 1888, os negros ganharam autonomia, mas continuaram a sofrer com desqualificação social. A capoeira foi proibida no ano seguinte à Lei Áurea, e, em 1890, o governo da República criou a Seção de Entorpecentes Tóxicos e Mistificação, para impedir o denominado "baixo espiritismo". Ou seja, o uso da maconha em rituais de origem africana, como o candomblé. À medida que se enraizava nas tradições populares, entre ex-escravos, índios e repentistas do Nordeste, aumentava a repressão ao consumo. A primeira lei restritiva é de 1830, quando a "venda e o uso do pito de pango" (cachimbo de barro para maconha) foram proibidos no Rio de Janeiro - três dias de cadeia para o negro que pitasse. Textos de cunho racista, de 1916, passaram a defender a tese de que a Cannabis levava negros e nordestinos ao crime. Um dos propagadores dessa teoria foi o médico Rodrigues Dória: "Um indivíduo já propenso ao crime, pelo efeito exercido pela droga, privado de inibições e de controle normal, com o juízo deformado, leva à prática seus projetos criminosos". Vários médicos com ideias de pureza racial temiam que o uso da maconha contaminasse os cidadãos brancos. Assim, a partir de 1917, a receita médica passou a ser obrigatória para comprar a Cannabis. E, em 1932, ela entrou na lista de substâncias proscritas. O Estado Novo de Getúlio Vargas institucionalizou a repressão e estabeleceu pena de prisão para os usuários. O governo também negociou com os fiéis do candomblé a retirada da maconha dos cultos, em troca da legalização da religião.

Pó de rico
Ele veio com a modernização, na busca louca pela euforia

Bem menos popular, a cocaína também passou de remédio à posição de droga criminalizada e antissocial, embora se saiba que o pó circula hoje ferozmente pela classe média brasileira. Ela surgiu como analgésico e começou a ser consumida no Brasil em meados dos anos de 1910. Laboratórios como o Grimault indicavam o vinho de coca para "pessoas fracas" e "jovens pálidas e delicadas". Há registros de consumo da folha de coca de mais de 1200 anos na América do Sul. E seu chá era vendido no século 19 na Europa e na América do Norte. Mas seu princípio ativo, a cocaína, só foi isolado em 1860, pelo químico alemão Albert Niemann. E, em pouco tempo, revelou efeitos colaterais, como arritmias cardíacas, problemas respiratórios e neurológicos. Por isso, lei de 1882 exigiu, no Brasil, receita médica na compra de pó. Mas o século 20 disseminou o consumo, recomendado até pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Em 1914, o jornal O Estado de S. Paulo advertia: "Há hoje em nossa cidade muitos filhos de família, cujo grande prazer é tomar cocaína e deixar-se arrastar até aos declives mais perigosos deste vício. Quando atentam... é tarde demais para um recuo". Três anos depois, o Código Sanitário determinou o fechamento das farmácias (que eram, com os bordéis, os maiores distribuidores da droga) que vendessem cocaína sem receita. Para a pesquisadora Beatriz Rezende, organizadora do livro Cocaína: Literatura e Outros Companheiros de Ilusão, o Brasil respirava os ares da Primeira República, e "o entusiasmo pela modernização vai fazer com que a ideia de decadência de costumes frequentemente ligada ao ópio e ao haxixe seja substituída pela ambição da euforia encontrada no éter e na cocaína". Era usada por poetas e outras artistas. Na crônica A Favela (1922), Orestes Barbosa escreveu que, nos morros cariocas, traficantes vendiam a droga "malhada" (misturada a outras substâncias). E no samba A Cocaína (1923), de Sinhô, surgem sinais de alerta: "Mais que a flor purpurina é o vício arrogante de tomar cocaína. Quando estou cabisbaixa chorando sentida, bem entristecida, é que o vício da vida deixa a alma perdida. Sou capaz de roubar, mesmo estrangular, para o vício afogar." Até que, em 1938, decreto-lei proibiu nacionalmente a cocaína, mesmo para fins médicos.

O dia da bicicleta
Os anos 60 e 70 viveram o desbunde psicodélico e o fortalecimento do tráfico

Nos anos 60, o movimento hippie e a contracultura deram às drogas status de experiência libertária. Acaba o estigma da maconha como "droga de pobre" e o LSD (dietilamina do ácido lisérgico) entra na moda. Ele foi sintetizado a partir de um fungo do centeio em 1938, pelo suíço Albert Hofmann, nos laboratórios Sandoz. Mas só em 1943 o cientista descobriu seus efeitos psicoativos, ao absorver na pele uma pequena quantidade da substância. Foi no dia 19 de abril, conhecido como o "dia da bicicleta", quando ele experimentou delírios caleidoscópicos ao pedalar até em casa. O LSD teria surgido das pesquisas da CIA para criar armas de controle mental e foi aplicado na psiquiatria. Mas ganhou fama entre os anos 60 e 70. O cantor Tim Maia, após viagem a Londres, nos anos 70, foi visitar a Philips (sua gravadora na época) para oferecer ácido a todos: "Isto aqui é um LSD, que vai abrir sua cabeça, melhorar a sua vida, fazer de você uma pessoa feliz", conta o jornalista Nelson Motta, no livro Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia. Também nessa época, o tráfico começou a se profissionalizar. No presídio da ilha Grande (RJ), militantes políticos e presos comuns trocaram experiências sobre táticas de luta, o que teria contribuído para a criação das atuais facções do narcotráfico. Desde então, o Brasil viu o avanço do ecstasy, a droga das raves da classe média, e do crack, a pedra dos meninos de rua de São Paulo. Mas a verdade é que, por razões existenciais, religiosas, de mercado ou de poder, a humanidade nunca deixou de conviver com as drogas.

Combate internacional
As medidas de controle começaram com o ópio, na China

O primeiro acordo internacional sobre drogas é de 1909, após a Comissão do Ópio de Xangai, e proibiu o ópio, pivô da primeira e da segunda Guerra do Ópio (1839-1842 e 1850-1860), entre britânicos e chineses. Os ingleses haviam introduzido a droga ilegalmente na China para pressionar pela compra de produtos ocidentais. Mas a Convenção de Drogas e Narcóticos das Nações Unidas, de 1961, assinada hoje por todos os países da ONU, foi o primeiro consenso mundial de que substâncias psicoativas deveriam ser coibidas, por causar dependência e danos à saúde. Este mês, 100 anos depois do acordo do ópio, acontece a Reunião Especial sobre Drogas da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Viena.

Saiba mais

LIVROS

Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas: Histórias e Curiosidades sobre as Mais Variadas Drogas e Bebidas, Henrique Carneiro, Campus/Elsevier, 2005
Cerca de 140 verbetes sobre diferentes substâncias psicoativas, enfocando seu significado cultural e simbólico ao longo da História.

Cocaína: Literatura e Outros Companheiros de Ilusão, Beatriz Rezende (org.), Casa da Palavra, 2006
Textos literários que mostram a evolução do pó da inspiração boêmia às páginas policiais.

SITE

www.neip.info/

Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, reúne pesquisadores de vários centros universitários, teses e bibliografia sobre o tema..

FONTE:  Revista Avanturas na História - Matéria escrita por Heitor Pitombo | 29/06/2009 06h41.

A invenção do Oriente Médio


israelenses lutam contra palestinos. Xiitas se opõem a sunitas. Radicais muçulmanos organizam ataques terroristas. Para entender o maior barril de pólvora do mundo, é preciso conhecer a história do local

Em 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os ataques terroristas aos Estados Unidos, a rede de TV árabe Al Jazeera transmitiu um vídeo de Osama bin Laden. Nele, o chefe da rede Al Qaeda falava da "humilhação" que o Islã havia sofrido durante "mais de 80 anos". O líder radical referia-se ao fato de, em 1918, o Império Turco-Otomano – a última grande potência muçulmana – ter sido derrotado pelos europeus. Sua capital Constantinopla foi tomada e a maior parte das terras, conquistadas por Maomé a partir do século 7, divididas em territórios com fronteiras novas e nomes inspirados em regiões da Antiguidade cujos limites não correspondiam ao novo traçado. Dois deles, chamados de Iraque e Palestina (hoje Israel, Jordânia e Cisjordânia), ficaram sob domínio britânico. Já o terceiro, que recebeu o nome de Síria (atuais Síria e Líbano), coube aos franceses. Pior: quatro anos depois, o califado, símbolo da unidade política do Islã por 13 séculos, cedia lugar a estados-nações com leis e costumes importados do Ocidente.
Bin Laden não é o único que usa os ressentimentos do passado para justificar ações presentes. No Oriente Médio, batalhas e heróis de séculos (ou milênios) atrás continuam reverberando no discurso dos líderes atuais para mobilizar as massas. Judeus até hoje celebram a conquista de Jerusalém por Davi, há 3 mil anos, e a unificação do antigo reino de Israel. Hassan Nassralah, chefe do Hezbollah, gosta de se comparar ao líder curdo Saladino, que em 1187 liderou a vitória dos muçulmanos sobre os cruzados na Terra Santa. O dirigente iraquiano Saddam Hussein dizia-se herdeiro do rei babilônico Nabucodonosor e de Saladino – embora Saddam tenha matado milhares de curdos nos anos 80.
              A simbologia do passado é tão forte no Oriente Médio que as disputas nacionais acabam assumindo caráter religioso. Foi assim com o conflito entre israelenses e palestinos, que começou no início do século 20 como uma luta por terras e acabou atraindo radicais religiosos dos dois lados. É assim no Iraque, onde milícias armadas revivem hoje o conflito instaurado pelo cisma entre sunitas e xiitas nos primórdios do Islã. É fato que os interesses petroleiros também ajudam a explicar as tensões no Oriente Médio. Mas a região só se tornou um dos pontos mais inflamáveis do mundo graças à constante mescla entre religião e política, entre passado e presente. Portanto, para entender o que ocorre lá hoje, é preciso voltar no tempo. Pelo menos 5 mil anos atrás.

PRIMEIROS HABITANTES
O mapa do Oriente Médio que vemos hoje é apenas o mais recente capítulo de uma longa saga. Desde 3 mil a.C., essa faixa de terra na encruzilhada da Europa, Ásia e África foi dominada – em maior ou menor escala – por diversos reinos e impérios, em conquistas não-lineares. Entre eles, os egípcios (a partir de 2500 a.C.), hititas (por volta de 1500 a.C.), israelitas (século 10 a.C.), assírios (século 8 a.C.), babilônios (século 7 a.C.), persas (século 6 a.C.), macedônios (século 4 a.C.), romanos (século 1), bizantinos (século 5), sassânidas e califado islâmico (século 7), seljúcidas, cruzados e muçulmanos liderados por Saladino (século 12), império mongol (século 13), império otomano (século 16) e potências ocidentais, no início do século 20.
A maioria desses povos não existe mais. A civilização dos faraós, por exemplo, nada tinha a ver com os árabes que hoje habitam o Egito. Adorava outros deuses, falava outra língua e utilizava diferentes formas de escrita. Cananeus, israelitas, fenícios e filisteus também já viviam no Oriente Médio milhares de anos antes do advento do Islã. Eles habitavam a parte ocidental do chamado Crescente Fértil (hoje, os territórios de Israel, Líbano e Cisjordânia). Por volta do século 13 a.C., os israelitas conquistaram Canaã, ao sul do Crescente, onde viviam cananeus e jebuseus, entre outros, e formaram um reino ao norte (Israel) e outro ao sul (Judá), que 300 anos depois seriam unificados pelo rei Davi, tendo Jerusalém como capital. Enfraquecido por disputas internas, o reino de Israel foi conquistado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 a.C. Os judeus foram exilados.
Outros povos tiveram pior sorte. "Os filisteus desapareceram durante as conquistas babilônicas; já os fenícios permaneceram na costa do Mediterrâneo até a época romana [século 1]", diz o historiador Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, no livro "O Oriente Médio". Outro povo que sumiu foram os nabateus, rica civilização semita que fez sua capital na cidade de Petra, na atual Jordânia. Os sumérios, acádios e assírios, que habitaram a Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), entraram em declínio com a avalanche de impérios e batalhas.
A partir do século 3, o Oriente Médio virou palco de sangrentos embates entre as duas principais potências da época: Pérsia e Roma. Até então, o cristianismo não tinha papel importante. "No início, os seguidores de Jesus foram uma seita perseguida. Mas com a conversão do imperador Constantino, no século 4, o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma", diz o pesquisador americano Michael Hart. Foi quando a situação começou a mudar.
No século 5, o Império Romano do Ocidente sucumbiu ante as invasões bárbaras à Europa, mas o Império Romano do Oriente, mais conhecido como Bizantino, ainda se manteria por mil anos. Constantino havia feito sua capital em Bizâncio, rebatizada de Constantinopla (atual Istambul). Embora falassem grego, os bizantinos se consideravam romanos e levaram adiante as guerras contra os persas. Em 637, quando persas e bizantinos estavam exaustos de lutar, o Oriente Médio caiu na mira de uma nova potência: o Islã, fundado pelo profeta Maomé.
A REGIÃO SOB O ISLÃ
"Os exércitos de Maomé partiram da Arábia e avançaram sobre o Oriente Médio, África, Europa, Índia e China ao mesmo tempo, aliando a vanguarda da ciência ao maior poderio militar da Terra", diz Lewis. Maomé chegou com uma novidade em relação aos líderes cristãos: foi ao mesmo tempo líder político e religioso. "Ao longo da história cristã, Igreja e Estado desenvolveram hierarquias diferentes. As duas podem estar unidas ou, em tempos modernos, separadas. Mas, na sociedade concebida por Maomé, nunca foi criada uma instituição semelhante à Igreja", diz Lewis. "Não há no Islã a distinção entre a lei da mesquita e a lei do Estado. Há apenas uma única lei, a sharia, que regula todos os aspectos da vida humana." Com a morte de Maomé, em 632, a comunidade islâmica se dividiu sobre quem seria seu primeiro sucessor – o califa. A maioria apoiou a escolha de Abu Bakr, companheiro e sogro de Maomé. Outros desaprovaram essa decisão, dizendo que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro do profeta, Ali. Os partidários de Bakr ficaram conhecidos como sunitas, enquanto os de Ali foram chamados de xiitas. "Sunita" vem da palavra árabe sunnah, que se refere às palavras e ao exemplo do profeta Maomé. Já "xiita" vem de shia, ou seguidor (de Ali). Esse cisma até hoje gera conflitos na região.
Certo é que os primeiros califas foram árabes e muçulmanos – isto é, faziam parte do povo árabe e seguiam a fé islâmica. (Muita gente hoje confunde "árabe" com "muçulmano", embora apenas 30% dos muçulmanos sejam árabes.) Nos séculos seguintes, o poder do califado foi exercido por dinastias diversas, como a dos omíadas (sediados em Damasco) e abássidas (com sede em Bagdá). Mas, apesar dessa diversidade, o califado se manteve como símbolo maior da unidade do Islã. Por vezes, essa unidade era ameaçada. Em 1096, por exemplo, o papa Urbano II resolveu dar um basta ao domínio muçulmano na Terra Santa e enviou a primeira de uma série de expedições – as Cruzadas – para reconquistá-la. Foi um banho de sangue. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas de Jerusalém", escreveu Raymond de Aguiles, cristão e testemunha da matança. Os cruzados expulsaram os judeus da cidade e transformaram as mesquitas em igrejas, baita humilhação aos muçulmanos. Mas o reino cruzado durou pouco. Os muçulmanos se reorganizaram em torno do general Saladino, que em 1187 entrou triunfante em Jerusalém, aceitou a rendição dos cristãos e permitiu a volta dos judeus. Detalhe: Saladino era curdo, não árabe. Sinal de que o poder estava mudando de mãos no Oriente Médio. Pouco depois, a região passou ao domínio dos mongóis, que com o tempo se converteram ao Islã.
A mudança maior ocorreu no século 15 com a formação de um novo império muçulmano: o dos turcosotomanos, que tomaram Constantinopla em 1453 e ampliaram seus domínios até a África e a Europa. "Os sultões otomanos se proclamaram califas, embora fossem turcos, não árabes. Tampouco eram descendentes de Maomé", diz o historiador inglês Christopher Catherwood, da Universidade de Cambridge. "Mas, com o sucesso de seu superestado, poucos muçulmanos contestariam a autoridade islâmica da nova dinastia dos califas. O orgulho muçulmano foi revigorado com a supremacia." Resultado: durante quase mil anos – entre o declínio do Império Romano e o advento da modernidade – o Islã esteve na dianteira do progresso humano. Era a principal potência econômica e comercial do planeta, vanguarda nas artes e nas ciências. Mas, de repente, a balança se inverteu. Os europeus promoveram o Renascimento e recuperaram o atraso científico. No século 16, Espanha, Portugal, Áustria e Rússia haviam ganhado sucessivas batalhas contra os exércitos de Alá. Em fins do século 17, o Islã era uma força em retirada e seus líderes se sentiam ameaçados pelos impérios ocidentais. Mais: o Ocidente renovou seus valores com a Revolução Francesa e promoveu a Revolução Industrial, enquanto o Islã, numa inversão do curso, parecia estagnado.
Em 1798, o francês Napoleão Bonaparte entrou no Egito e, pela primeira vez, submeteu os centros vitais do Islã ao domínio de uma potência ocidental. Com o Império Otomano tremendo nas bases, a situação das minorias religiosas piorou muito. Até então, judeus e cristãos (reconhecidos como "povos do livro") podiam seguir suas tradições desde que respeitassem as autoridades e pagassem impostos. Eram cidadãos de segunda classe – por exemplo, nunca podiam testemunhar num julgamento contra um muçulmano –, mas podiam contar com a proteção do califa. "Com a crise do Império Otomano, ficou difícil manter a tolerância baseada na superioridade religiosa. As minorias não-muçulmanas passaram a ser vistas como agentes das mudanças", diz Lewis. À medida que a situação piorava, crescia a influência do partido Jovens Turcos, que buscava modernizar o país. Em 1913, a facção extremista do partido derrubou o sultão Abdul Hamid II e instaurou um regime para acabar com a diversidade do império. No jargão dos extremistas, essa idéia era chamada de "panturquismo" – e significava a exclusão de todas as minorias.
Esse nacionalismo era uma novidade e tanto na história dos impérios muçulmanos. Até então, não importava se seus integrantes fossem árabes, persas, curdos: o importante era que fossem muçulmanos. Agora, os manda-chuvas declaravam que mais importante era ser turco. Um tiro que sairia pela culatra. Fronteiras pós-guerra Quando estourou a Primeira Guerra, em 1914, a maioria dos árabes manteve-se leal ao Império Otomano. "Os curdos também tomaram o seu lado e, estimulados pelos otomanos, massacraram centenas de milhares de armênios cristãos", diz Catherwood. Na Europa, franceses, ingleses e russos se aliaram contra o expansionismo alemão. Os Jovens Turcos decidiram lutar do lado da Alemanha. Ingleses começaram a treinar tribos árabes de dentro do próprio Império Otomano contra os turcos usando táticas de guerrilha. Figura famosa da época foi T.E. Lawrence, soldado e arqueólogo inglês que teria liderado a Revolta Árabe (1916-18) contra os turcos. Ele ficou tão famoso que mereceu um filme – Lawrence da Arábia. Mas a revolta e o papel de Lawrence ainda geram polêmica entre os historiadores. "Grandes trechos do filme são fictícios", diz Catherwood. "Fica parecendo que os árabes foram traídos por britânicos e franceses. É como se os valorosos libertadores árabes fossem manipulados pelos perversos ocidentais", diz ele. "Investigações recentes deixam claro que não foi o que aconteceu. O que ocorreu foi uma invasão australiano-britânica, comandada pelo general Allenby, que de fato libertou toda a região dos turcos, junto com invasões das tropas indianas lideradas por britânicos. Não fosse isso, o exército turco teria saído vitorioso e a revolta teria sido relegada ao esquecimento." Segundo Catherwood, realmente havia árabes descontentes com o domínio turco, sobretudo quando as atrocidades contra os armênios atingiram escala genocida. Mas a proporção de árabes que se revoltaram e combateram ao lado dos britânicos foi pequena. Seja como for, tribos árabes ficaram frustradas no fim da guerra, quando os turcos jogaram a toalha. Franceses e britânicos lotearam as terras do Império Otomano e as dividiram em fronteiras novas. "Até os nomes refletem essa artificialidade. Iraque havia sido uma província medieval com fronteiras muito diferentes das atuais. Síria, Líbano e Palestina são nomes da Antiguidade clássica que não haviam sido utilizados na região durante mil anos", diz Lewis.
Os franceses criaram o Líbano atual tomando parte da Síria, enquanto os britânicos traçaram as fronteiras da Transjordânia (atual Jordânia), do Iraque e do Kuwait. Na cabeça de cada um desses países, os europeus puseram líderes de clãs árabes pró-Ocidente para endossar seus interesses pelo petróleo. “Essa criação de nações com fronteiras artificiais, unindo povos com identidades e lealdades ancestrais muito distintas, foi um processo frágil que plantou a semente de crises de legitimidade e poder”, diz o americano John Esposito, professor de Estudos Islâmicos na Universidade de Georgetown. Na Turquia, último vestígio do Império Otomano, convencido de que precisava modernizar o país, o líder turco Kamal Ataturk instituiu a República, separou a religião da política e aboliu o califado – que havia sido o símbolo da identidade muçulmana durante 13 séculos. É a esse momento que Bin Laden se refere ao falar dos 80 anos de “humilhação” do Islã. Afinal, boa parte do mundo muçulmano se via nas mãos de líderes ocidentalizados. A a colonização não durou mais que 30 anos, mas ajudou a enterrar a unidade muçulmana da época medieval.
Na Palestina, a Inglaterra se viu com uma batata quente nas mãos: conter os crescentes enfrentamentos entre árabes e judeus. Ambos reivindicavam aquelas terras para a construção de seu lar nacional. Em 1947, os ingleses abriram mão da colônia e passaram a bola para a Assembléia Geral da ONU, que votou pela divisão da Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe (palestino). Os judeus aceitaram o plano, mas a Liga Árabe o rejeitou.
Resultado: após sua independência, em 1948, Israel foi invadido pelos países vizinhos. Tinha início a primeira das seis guerras árabesisraelenses – e com ela o problema dos refugiados palestinos. Com o cessar-fogo, em 1949, Israel ficou com parte de Jerusalém e um território um pouco maior que o planejado pela ONU. As zonas que seriam destinadas aos palestinos – Gaza e Cisjordânia – ficaram com Egito e Jordânia, dois países árabes, mas o Estado palestino não foi criado.
Nos anos 50 e 60, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio entre dois blocos de Estados antagônicos. “Os chamados conservadores, como a Arábia Saudita, os sultanatos, emirados, a Jordânia e o Marrocos, formavam um grupo de monarquias sob forte influência ocidental – especialmente dos Estados Unidos”, diz o historiador Peter Demant, da Universidade de São Paulo, em O Mundo Muçulmano. “Por outro lado, houve uma série de regimes ditos progressistas, originados de revoluções antiocidentais. Foi o caso de Egito, Líbia, Síria, Iraque e Argélia, alinhados à União Soviética, com um discurso nacionalista e socialista.” O ditador egípcio Gamal Abdel Nasser, por exemplo, promovia a união dos árabes sob a bandeira do pan-arabismo. “Mas o nacionalismo/socialismo árabe se viu desacreditado pela desastrosa derrota de Egito, Jordânia e Síria frente a Israel na guerra de 1967 [quando Israel conquistou Jerusalém oriental, Gaza, Cisjordânia e as colinas do Golã], além do fracasso econômico e da corrupção de seus governos”, diz Esposito.
A essa altura, uma enorme sensação de insatisfação se propagava entre as massas do Oriente Médio e do mundo islâmico. Ela criou condições para a emergência de um movimento radical, o popular “fundamentalismo”, embora seja mais correto dizer “islamismo”. "O islamismo é uma ideologia totalitária que busca o poder sob a desculpa da religião", diz o analista espanhol Gustavo Arístegui em O Islamismo Contra o Islã. "É uma manipulação da religião islâmica." Os islamistas (fundamentalistas) dizem que o Islã errou ao adotar o modo de vida ocidental. Portanto, é preciso derrocar os governantes muçulmanos moderados e implantar regimes baseados na sharia. “No longo prazo, eles pretendem formar uma federação desses regimes e restabelecer o califado”, diz Arístegui. O berço desse radicalismo foi o grupo Irmandade Muçulmana, criado no Egito em 1928. O fundador, Hassan al-Banna, defendia a purificação do Islã contra qualquer elemento ocidental. Banna foi morto pelo governo do Cairo, mas sua ideologia sobrevive em grupos como Hamas e Hezbollah e na rede terrorista Al Qaeda. O palestino Abdullah Azzam, mentor de Bin Laden, era da Irmandade Muçulmana. O egípcio Said Qutb, ideólogo do grupo, influênciou muito o líder da Al Qaeda. “Esses radicais justificam o terrorismo recitando a lista de ressentimentos padecidos por culpa do Ocidente: as Cruzadas, o colonialismo, a criação de Israel, a Guerra Fria e a presença americana nas terras sagradas do Golfo”, diz Esposito. Bin Laden tem pouco (ou nada) a ver com a causa palestina. Mas falar em nome dela, como pode ser notado hoje, é garantia de apoio.
FONTE: Revista Aventuras na História – matéria de Eduardo Szklarz. 27/05/2009 01h51

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